Temas relacionados a saúde mental foram ganhando maior visibilidade e aceitação da nossa sociedade ao longo dos anos. Pode-se constatar que essa aceitação partiu de grandes campanhas que promovem a conscientização sobre os cuidados em saúde mental, onde trouxe à tona informações que rompem estereótipos e tabus. No Brasil esta Campanha iniciou-se em 2014, por iniciativa do psicólogo mineiro, Leonardo Abrahão, que criou – Janeiro Branco – com objetivo de conscientizar e desmistificar a doença mental.
Em março de 2020, o Brasil foi atingido pelo início de um marco histórico: A Pandemia da COVID-19. Não demorou muito para que as autoridades decretassem estado de calamidade pública, e para que os órgãos de saúde emitissem protocolos sanitários estabelecendo medidas de distanciamento social e isolamento. Nós brasileiros, tão calorosos! Que expressamos a nossa afetividade através do contato físico, tivemos que nos conter. As relações interpessoais foram alimentadas através das redes sociais. Ficar em casa virou sinônimo de empatia e respeito à vida. Em contrapartida, profissionais de saúde e de serviços essenciais tiveram suas atividades intensificadas. Muitos contraíram o vírus ou perderam colegas de profissão para a doença, e se não bastasse, ainda experimentam, diariamente, o desgaste físico e emocional, e em muitos casos o baixo reconhecimento de todos os lados (atraso de salários, preconceitos, agressões, etc.)
A Covid 19 nos forçou a olhar para as nossas necessidades, e administrar melhor o nosso tempo no sentido existencial, afinal, é uma bomba relógio que nos põe a prova da finitude. Seja a nossa, ou de alguém querido. Lidar com o luto tem sido tema diário. Muitos perderam seus empregos, perderam entes queridos, e não bastando, a pandemia escancarou a desigualdade social. É muito comum e normal sentir-se fragilizado emocionalmente frente a um cenário de desastre, mas é importante estar em alerta se esta tristeza se acentuar.
Em maio de 2020 a Organização Pan-Americana da Saúde publicou um artigo onde aponta as necessidades urgentes de aumentar os serviços de investimentos em saúde mental durante a Pandemia da COVID 19. Neste mesmo artigo afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). – “O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante”, “O isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda e, muitas vezes, de emprego”.
Em decorrência aos grandes períodos de isolamento, e exposição a perdas consecutivas relatórios da Organização Pan-Americana da Saúde apontam aumento nos índices de depressão e ansiedade durante a pandemia. Frente a este cenário parte a seguinte reflexão: Estamos com duas bombas armadas: Um desastre sanitário, e um desastre em saúde mental. Ambas invisíveis a olho nu, mas tão letais quanto, se não tratadas, adequadamente. Negligenciar os cuidados em saúde mental sob o olhar preventivo/interventivo, podem trazer danos sociais e econômicos irreparáveis para uma sociedade.
Investir, ampliar e reorganizar políticas públicas em saúde mental, será o elemento central no combate a COVID-19.